Sobre a Vida
Aonde ides, ébrios? oh homens que bebeis tanto e tão puro o vinho da ignorância, que já não o podeis suportar e estais prestes a vomitá-lo?
Quedai sóbrios, parai, levantai os olhos do vosso coração, se não todos, ao menos aqueles que o conseguirem, porque o mal da imunda ignorância inunda a Terra inteira e corrompe a alma, aprisionada no corpo, impedindo-a de ancorar no porto da liberdade.
Não vos deixeis arrastar pela impetuosidade das ondas, antes, aproveitando uma que cresce e se avoluma, vós que sois capazes, vogai nela e alcançai o porto da liberdade, ancorando ali.
Buscai então a mão que vos guie até às portas do conhecimento, onde está a Luz brilhante, livre de toda a escuridão e onde nada se embriaga.
Onde todos os sóbrios elevam os olhos dos seus corações até Àquele que quer ser visto. Porque Ele não se deixa ouvir, nem descrever, nem ver com os olhos do corpo, mas sim com a inteligência e o coração.
Mas primeiro, é preciso que te desfaças da vestimenta que levas, o véu de ignorância, sustento de maldade, suporte de degradação, antro tenebroso, morte viva, corpo material, a tumba que te acompanha sempre.
O ladrão pessoal que, pelo tanto que te ama, assim te odeia, e porque te odeia, te encarcera.
Este é o inimigo que tu mesmo envergaste como traje, que te estrangula e te puxa para baixo, para o seu domínio.
Eleva o teu olhar ao céu e, contempla a beleza da Verdade e do Bem que ali reside, aí começarás a odiar a sua maldade e compreenderás as armadilhas que maquina contra ti, compreenderás que bloqueia o teu sentido de observação, tão desprezado, cegando-o com matéria abundante em prazeres ignóbeis, para que não ouças aquilo que deves ouvir...