A Ordem dentro da Ordem

15-08-2013 14:33

 

Bertrand de Blanchefort, um nobre do Languedoc, tornou-se em 1153 no quarto Grão-Mestre da Ordem do Templo. Um nobre com simpatias Cátaras e cujo lar ancestral ficava localizado num pico, a meio caminho entre Bézu propriamente dita, e Rennes le Château. Um indivíduo de poder e influências, cujo mentor é aceite historicamente como tendo sido André de Montbard, o Grão-Mestre precedente.
De Blanchefort presidiu à Ordem entre 1153 e 1170, foi provavelmente o mais significativo de entre os Grão-Mestres Templários. Foi ele quem transformou a ainda jovem Ordem na estrutura eficiente, bem organizada e magnificamente disciplinada que conhecemos hoje. Foi ele quem projectou a Ordem na diplomacia e política internacional ao mais alto nível e criou uma importante esfera de interesses na Europa, particularmente em França.


Pouco tempo após a constituição da Ordem do Templo, de Blanchefort não apenas a ela aderiu prontamente como lhe outorgou terrenos nas redondezas da sua área de residência.


Faz parte da história local dizer-se que, em 1156, este Grão-Mestre terá "importado" para a região um contingente de mineiros de língua alemã. Que este corpo de trabalho lá esteve, não há dúvida, mas a questão é: A fazer o quê?


Dizem as tradições que estes trabalhadores estavam sujeitos a uma disciplina quase tão rígida e militarizada quanto a Ordem que os empregou: estavam proibidos de confraternizar com os locais, sendo mesmo imposto um isolamento em relação à comunidade circundante. Devido a esta situação, foi criado um corpo judicial específico para lidar com as questões relacionadas a estes trabalhadores: "La Judicature des Allemands".
Aparentemente a sua tarefa era trabalhar nas minas de ouro abundantes nas encostas das montanhas... abundantes em número, mas não em produção, porque já tinham sido praticamente esgotadas pelas explorações Romanas quase mil anos antes.


Há perto de 300 anos, durante o século XVII foram contratados engenheiros para elaborar relatórios detalhados a respeito das "perspectivas mineralógicas" da área.
Num destes relatórios, elaborado por Cesar d'Arcons, este discutia as ruínas que encontrara, vestígios das actividades dos mineiros alemães. Com base na sua pesquisa, d'Arcons declara que estes trabalhadores não pareciam ter-se dedicado à mineração, mas não poderia avançar com certezas outro tipo de actividade excepto metalurgia e escavações de uma cripta subterrânea ou repositório... curioso escolherem um local debaixo da terra para trabalhos de metalurgia, considerando as altas temperaturas que os mesmos exigem.
Em 1285 existia uma importante preceptoria a funcionar em pleno em Champagne-sur-l'Aude, não obstante, perto do final do séc XIII, Pierre de Voisins, senhor de Bézu e Rennes convidou para ali um destacamento separado de templários, um destacamento especial da província aragonesa de Roussillon, que se sedearam no cume do monte de Bézu, erigindo um posto de vigia e uma capela.


Para todos os efeitos, este destacamento tinha sido convidado para manter a segurança da região, protegendo a rota que atravessa o vale para Santiago de Compostela em Espanha... Mas existindo já uma estrutura templária no local, hierarquicamente completa, não é clara a necessidade destes cavaleiros a mais, primeiro porque não podiam ter sido muitos, ou pelo menos não os suficientes para criar uma diferença grande em número, quando a par dos que já ali existiam, segundo porque o próprio de Voisins tinha os seus soldados, obviamente, como qualquer senhor feudal. Ora estes, somados aos templários já existentes, seriam suficientes para garantir a segurança da área, que nem por isso é grande. como se poderá verificar no mapa.

 


O que quer que fosse que ali andaram a fazer é certo que ficaram sempre em posse de uma imunidade especial, porque apenas os seus sucessores, dentre todos os templários em França, escaparam aos senescais de Filipe. Aliás, não apenas "escaparam": Foram deixados em paz...
Um detalhe curioso: No fatídico dia 13 de Outubro de 1307, o comandante do contingente templário em Bézu era um tal Seigneur de Goth...
Antes de assumir o nome papal de Clemente V, o vacilante peão de Filipe, o arcebispo de Bordéus, chamava-se Bertrand de Goth.
Além disso, a mãe deste pontífice chamava-se Ida de Blanchefort, era descendente da família de Bertrand de Blanchefort (o IV Grão-Mestre).
Teria o papa conhecimento do que quer que fosse que estivesse confiado à custódia da sua própria família enquanto Templários? Algo que permaneceu na mesma família até ao século XVIII, quando o abade Antoine Bigou, confessor de Marie de Blanchefort e prior de Rennes-le-Château compôs parte dos pergaminhos que colocou na base do altar da igreja local?

 


Se fosse esse o caso, o papa, com Filipe ou sem Filipe haveria decerto de conferir alguma protecção senão imunidade ao seu familiar-comandante do contingente de Bézu.
Padrões desta complexidade não surgem sozinhos, nem sequer são os únicos. A trama templária ao longo dos séculos é, além de intrigante, apaixonante.


Tudo isto aponta para um planeamento meticuloso, característico de um núcleo específico de indivíduos mesmo dentro da Ordem. Ou se preferirmos uma Ordem dentro da Ordem...