A Estátua que a Tormenta Levou

29-10-2013 15:57

Apoiados nos Templários, os portugueses tiveram uma evolução gigantesca não apenas a nível económico mas também de expansão, no entanto, muitas tentativas foram feitas ao longo da história a fim de ocultar ou mascarar o papel dos mesmos, nos acontecimentos. 

Sedeados em S. Miguel, Açores, os Templários fizeram várias expedições marítimas em direcção ao denominado "Novo Mundo" e nas quais descobriram diversas massas de costa, que naturalmente sondaram pessoalmente, tendo em muitas delas entrado mesmo em contacto directo com os nativos. 

Os contactos e as descobertas foram de tal forma relevantes, que em 1247, um mestre canteiro de nome Gonçalo D'avô pretendeu construir na Ponta do Marco, Corvo, Açores, uma estátua representativa das rotas da Ordem, a fim de que para sempre permanecesse ali um testemunho Templário, para futuros exploradores.

E conseguiu os seus intentos, na forma de escultura na qual se encontrava um Cavaleiro do Templo, naturalmente a cavalo, apontando com o indicador da mão direita, o caminho para o novo Mundo (América e Canadá). 
Este testemunho ali permaneceu por cerca de 200 anos, mas como ocorreu com outros testemunhos, este também sofreu um triste destino.

Reinava D. Manuel I, cujo interesse em manter os louros das expedições para si mesmo se sobrepôs ao desejo de conservar a verdade, era administrador da Ordem de Cristo mas o núcleo da Ordem permanecia fora da sua esfera de influência, o que o irritou sobremaneira, a ele e ao seu sucessor D. João III.

De modo que quando tomou conhecimento da existência da estátua do Corvo, o rei viu nela "signal muy curioso" e, reza a história oficial que mandou desmontá-la por "gente sua muy capaz" e trazê-la para Lisboa. A mesma história que diz que, quando estes "capazes" ali chegaram, a estátua já havia caído, devido a "tormentas que a abateram"... 

Mas a "tormenta" chamava-se D. Manuel, que não a mandou "desmontar" mas sim destruir, e trazer os restos para a capital. O que aqui chegou não foram mais do que pequenos pedaços da obra do obscuro canteiro Gonçalo.

Escusado será dizer que após guardados no paço real, os pobres "restos" desapareceram dias depois, quem sabe para onde.
Ainda reza a história oficial, que havia na base da estátua em causa uma inscrição feita "numa língua aparentemente incompreensível"... 

Mas estava escrito o seguinte: "Além é Qahuata, o outro lado do mundo. E este é o caminho português."
Complicado de entender decerto... 

O que é certo é que hoje é assumido que tal estátua nunca existiu... mas aquilo com que o rei não contou foi que houvesse quem sobrevivesse para repôr a verdade.

O cronista Damião de Góis (1502-1574) escreveu assim:
"...uma estátua de pedra posta sobre uma laje, que era um homem em cima de um cavalo em osso, e o homem vestido de uma capa de bedém, sem barrete, com uma mão na crina do cavalo, e o braço direito estendido, e os dedos da mão encolhidos, salvo o dedo segundo, a que os latinos chamam índex, com que apontava contra o poente.

"Esta imagem, que toda saía maciça da mesma laje, mandou el-rei D. Manuel tirar pelo natural, por um seu criado debuxador, que se chamava Duarte D'Armas; e depois que viu o debuxo, mandou um homem engenhoso, natural da cidade do Porto, que andara muito em França e Itália, que fosse a esta ilha, para, com aparelhos que levou, tirar aquela antigualha; o qual quando dela tornou, disse a el-rei que a achara desfeita de uma tormenta, que fizera o inverno passado. Mas a verdade foi que a quebraram por mau azo; e trouxeram pedaços dela, a saber: a cabeça do homem e o braço direito com a mão, e uma perna, e a cabeça do cavalo, e uma mão que estava dobrada, e levantada, e um pedaço de uma perna; o que tudo esteve na guarda-roupa de el-rei alguns dias, mas o que depois se fez destas coisas, ou onde puseram, eu não o pude saber."

Adianta ainda que o capitão donatário, Pêro da Fonseca, presente nas ilhas das Flores e do Corvo em 1529: "...soube dos moradores que na rocha, abaixo donde estivera a estátua, estavam entalhadas na mesma pedra da rocha umas letras; e por o lugar ser perigoso para se poder ir onde o letreiro está, fez abaixar alguns homens por cordas bem atadas, os quais imprimiram as letras, que ainda a antiguidade de todo não tinha cegas, em cera que para isso levaram; contudo as que trouxeram impressas na cera eram já mui gastas, e quase sem forma, assim que por serem tais, ou porventura por na companhia não haver pessoa que tivesse conhecimento mais que de letras latinas, e este imperfeito, nem um dos que ali se achavam presentes soube dar razão, nem do que as letras diziam, nem ainda puderam conhecer que letras fossem." 

(Crónica do Príncipe D. João, 1567)